Chegou aquele mês do ano! Aquele mês que se fala durante toda a época, aquele mês que nos faz recuar à infância e recordar o que é viver vida de “profissional” da bola durante uma semana. Pode ser só uma semana, mas é uma semana daquelas… Para os que vão, é uma semana a construir memórias que ficarão para toda a vida, para os que ficam é uma semana em que a produtividade no trabalho é posta de parte por repetidos 90min a dar refresh na app da FADU e no WhatsApp da equipa. E que bonito que costuma ser, e que bonito que voltou a ser!
Não sei quem inventou este conceito de pôr estudantes universitários que levam o ano de cerveja na mão, que o desporto que mais praticam é o passinho de dança, que a jogada que mais vezes ensaiam é o flirt, a jogar todos os dias durante 1 semana… Mas que ideia! De repente, grupos de amigos que levam o ano a virar rodadas em todo e qualquer café, tasca e restaurante, sentam-se numa esplanada a pedir cafés, águas e colas zero… Malta que o único comprimido que toma durante o ano é o Guronsan, de repente está a mamar de comprimidos de potássio, banhos de gelo e Voltaren. Não sei quem imaginou que isto poderia ser possível, mas que ideia!
Todos os que são repetentes ao nível de nacionais, arrancaram em direção a Viana com aquela vontade de vencer, mas acima de tudo com a certeza que terão daquelas semanas que ficam para mais tarde recordar. Por outro lado, os caloiros vão num mar de incertezas criadas por meses a ouvir os restantes a contar histórias passadas. Desde os universitários à malta do TFC, penso que todos viveram aquela semana de maneira completamente diferente das restantes. De uma maneira que o Ramalho não aguentou o 1º dia em Lisboa e apanhou o 1º autocarro em direção a Viana – e sem poder jogar, simplesmente para estar lá com a malta.
Mas falemos de bola! Ninguém dúvida que o nacional é muito mais do que o que acontece dentro de campo, mas na realidade o que fica para sempre são os resultados dentro de campo. Sabor amargo, neste caso! Por um lado, este 2º lugar fica marcado na história desta equipa como a melhor classificação de sempre em nacionais (a par da geração de 2003 e de 2021). Por outro lado…. Custa mais uma vez ficar tão perto e ver o caneco escapar-nos por entre os dedos! Custa morrer na praia e pensar que ficou tão perto mais uma vez. Mas vejamos jogo a jogo.
Para abrir as hostilidades, técnico arranca uma vitória por 2-0 contra o anfitrião IPVC. Jogo de sentido único, o resultado peca por escasso depois de um mar de oportunidades falhadas durante todo o jogo. João Trindade e Hans Koppensteiner fazem os tentos que permitem ao instituto entrar com o pé direito neste nacional!
Depois da vitória na 1ª jornada, o IST arranca um empate a uma bola contra o carrasco da última final – Aveiro. Jogo equilibrado, mas menos conseguido do que o da 1ª jornada, o instituto vê-se a perder até aos últimos segundos da compensação, quando João Mendes se antecipa ao defesa adversário e saca um penalty que culminaria com o golo no último segundo por Pedro Ventura.
Se no 2º jogo o adversário foi o carrasco da final de 2021, a jornada final da fase de grupos pôs frente-a-frente os 2 finalistas deste ano – IST e FEP. Uma FEP já apurada contra um IST ao qual o empate bastaria para seguir em frente! Jogo marcado por uma primeira parte dividida e sem oportunidades nas 2 áreas. Na segunda parte uma FEP mais atrevida e um IST sem querer arriscar a passagem à próxima fase, levam a uma posse de bola a pender para a FEP mas mais uma vez sem claras oportunidades de golo em nenhuma das balizas. O nulo prevaleceu e seguiram as duas equipas para as meias-finais da prova.
Meia-final põe frente a frente IST e a provavelmente melhor equipa do torneio, FEUP. Uma primeira parte brilhante por parte do instituto, conjugado com os golos de Trindade e um 50/50 entre Tó e Viegas, levam a um 2-0 ao intervalo. Na 2ª parte foi coração… Não vos posso mentir! Levámos um amasso daqueles… A FEUP acelerou e nós tivemos lá – metemos a cabeça onde deu e o pé onde a cabeça não chegava. Foi correr até não dar mais, lutar até cair e rezar muito pelo apito final! Mas deu! A sorte (porque houve lances de muita sorte), o demérito adversário em frente à baliza e acima de tudo o coração, o querer, a vontade e a irmandade do técnico, levou a um resultado de 2-1 e mais um apuramento de uma final nacional.
E chegou o dia… Sexta-feira dia 28 de abril, 12h com transmissão no Canal 11! O dia que parecia impossível almejar num início de época com equipa técnica nova e um plantel cortado à metade. Mas a verdade é que tivemos lá! Não porque alguém nos deu alguma coisa, não porque os árbitros gostavam do azul e branco, não porque a FEUP falhou 5 golos de baliza aberta na meia-final, mas sim por mérito próprio! Muito mérito próprio, muito acreditar no processo e deixar o trabalho fluir! Em setembro os treinos começaram com 14/15 jogadores. Houve captações, entrou malta com uma qualidade indiscutível. Da parte dos que cá estavam, houve companheirismo de os integrar como se os conhecêssemos há anos. E desse grupo de jogadores, formou-se uma equipa que depois se transformou numa família! E o técnico é isto! Raramente somos os que jogamos mais à bola, raramente somos os com melhores condições, mas quando se fala em dar as mãos, fazer tudo pelo colega, ajudar dentro e fora de campo…. Nisso nós somos foda! Nisso ninguém nos come… Todas as catembadas, todos os jantares de equipa, todas as saídas à noite, todos os “Miau”, todas as noites do arraial, todos os churrascos, tudo isso dá-nos aquele ponto extra que mais nenhuma equipa tem. E agora que a final foi perdida, o importante é isso! O importante nesta equipa é teres a consciência tranquila de que no dia em que sejas obrigado a abandoná-la, deixas-te o teu toque, passas-te a mística aos mais novos que alguém um dia te passou. Que os “Grandes companheiros”, os “Ave Maria”, os “Miau”, os “(introduzir nome de qualquer pessoa) é mau na cama”, os “Eu não sou da AE”, os “A nossa defesa é feita de betão”, o oferecer Whiskey ao senhor António no Natal, o compromisso dos treinos mesmo quando as restantes equipas gozam férias nas paragens do campeonato, etc. etc. Tudo isso tem de passar! E se houve uma altura em que essa identidade tão própria do IST parecia que se poderia perder, este ano foi um boast como há muito tempo não se via. A final acaba por ser perdida por 1-0, um golo indefensável de livre direto, mas talvez seja o que menos importa no meio disto tudo…. É claramente o que nos deixa mais tristes, mas este sentimento de família, de pertença, de companheirismo é o que fica para todos nós. E isso ninguém nos pode tirar!
Mas bola à parte, ficam todas as memórias criadas ao longo desta semana! Estas palavras bonitas que deixei em cima, ficam para nós comunidade TFC que a vivemos na pele, mas fica também para todas as pessoas às quais deixámos a nossa marca. Claro que a malta gosta é de copos e chavascal, mas na realidade é o nosso toque especial que toca as pessoas. Acho que não houve uma pessoa em Viana que não tenha sentido o toque da equipa de futebol do IST – desde a Sandra à Sandrine, a toda a malta do Darque, às meninas do futsal e do basquete que jogavam com uns verdadeiros hooligans na bancada a torcer por elas, a todas as equipas adversárias que foram gozadas, insultadas e elogiadas durante os jogos, aos árbitros que se riam a meio dos jogos, ao selecionador Jorge Braz que não sabe bem de onde descobriu que era mau na cama, etc. etc.. E isso é a prova que o nacional é mais do que uma semana a jogar à bola. O nacional é ficar roco a gritar por malta que nunca se viu na vida só porque usa uma camisola parecida à nossa, é dar flirt a toda e qualquer cozinheira, funcionária ou senhora acima dos 50, é tudo isso e muito mais. Tudo isso ficou ainda mais nítido quando uma equipa que depois de perder uma final, uma equipa completamente de rastos fisicamente depois de 5 jogos em 5 dias, ignora tudo o que os rodeia e vão ter com um grupo de malta de meia/alta idade só porque eles tinham sido simpáticos connosco ao longo da semana. Só porque lhes tínhamos prometido que a ganhar ou a perder, iríamos lá deixar-lhes uma medalha para eles porem junto com a camisola previamente oferecida. Ir e gastar muitas centenas de euros em comida e bebida, enquanto um barbeiro de serviço teve 1h a fazer Mullets à malta da equipa. Tocámos a malta de uma maneira que de repente o Honrado está a fazer uma Mullet a um senhor de 60/70 anos, que de repente metade do plantel tem fotos com senhoras de meia-idade que são suas amigas no Facebook…
Antes daqueles agradecimentos gerais que vocês sabem que eu não resisto fazer, dar uma palavra ao TFC. De coração que nós líamos todas as mensagens que vocês deixavam tanto no grupo do universitário como no do TFC. De coração que nos tocou vocês a puxarem por nós e a recordarem as vossas histórias de nacionais passados. Depois de cada jogo lá íamos nós no carro para casa e repetidamente ao longo da semana se ouvia “Epá eu sabia que por exemplo o Marinho vibra com isto, mas está a equipa toda a não trabalhar para acompanhar o nosso jogo, quão ridículo é isto?”. E nem era ver o jogo…. Era para ler um relato que o China ia fazendo num grupo de WhatsApp com os lances mais perigosos! Lindo eu pegar no telemóvel depois da final, ter 20/30 notificações de MbWay e de repente ter 400€ na conta para a malta gastar em cerveja…. A única coisa que me ocorre é: Incrível, a sério! Sem palavras!
O fim do nacional marca o fim da época e com isso vêm todas as despedidas inerentes ao fim de um ciclo. A todos os que durante anos abdicaram de dates com namoradas, de ir a casa ao fim-de-semana ou de ir a jantaradas de aniversário. A todos os que fizeram o seu último jogo com esta camisola, resta-nos agradecer e prometer que para o ano estaremos lá mais uma vez a lutar pelo título de Lisboa e acima de tudo, pelo título nacional!
Por fim agradecer a todos os amigos, família, jogadores da AE, ao Alex da AE, ao Carlos que nos acompanhou sem sequer nos conhecer, às pessoas random que conhecemos ao longo desta jornada, às senhoras da cantina que nos aturavam a reclamar dos pasteis de bacalhau, a todos os que vibraram ao longo desta semana connosco, aos que foram e aos que ficaram em Lisboa, a todos os que mandaram mensagens e partilharam storys, a todos os que ligaram desde Faro ao Porto passando pela Suíça, a todos os que simplesmente viram o jogo e só mais tarde descobri, etc. etc. Um obrigado enorme! O técnico está vivo e recomenda-se! Este ano não deu, mas para o ano há mais!
Um abraço à família Les Bleus,
Pedro Ventura