O tempo corre, não anda, e ele é quem manda, e decidiu ditar o apito final de 2024. O ano pode ter mudado, mas nós conseguimos manter-nos iguais a nós próprios num janeiro que foi tão caótico como imprevisível. O que mais se podia esperar quando a única parte sólida da nossa vida é a nossa linha defensiva? Bem-vindos à crónica de janeiro da Equipa Universitária.

O ano começou logo com uma viagem de equipa a Madrid. Na nossa busca incessante por bufunfos e por jola barata, podemos não ter ficado a saber a origem do urso de Madrid, mas de certeza que nenhum dos viajantes hesitará se lhes perguntarem quem eram os médios do Leicester na época 2015/16. Por falar em beber água, essa foi a principal tarefa de João Sousa a seguir a mais uma performance memorável fora das 4 linhas. Se houve alguma rapariga do Kapital com quem não falou, ou algum colega de equipa que não mordeu, foi por genuíno lapso de atenção, numa noite em que a única coisa que lhe faltou foi mesmo ter agarrado no telemóvel antes de sair do Uber. Enquanto Sousa deambulava pelos 7 andares do Kapital, a equipa mostrou mais um dos seus muitos talentos com uma rendição de Someone Like You que deixaria Adele com lágrimas nos olhos. Acabo o resumo desta bonita viagem com alguns agradecimentos: um obrigado ao Pedro por ser um cozinheiro incansável; um obrigado ao Splitwise por ter oferecido o nível de abstração necessário para deixar metade de um salário em Madrid; e por fim um obrigado a Deus por só termos encontrado o café com canecas a 1,50€ e gin tónicos a 4€ no último dia.
Tendo vencido em Madrid a batalha contra a infidelidade, voltávamos a Lisboa para enfrentar um adversário ainda mais difícil, a Nova SBE. Enquanto ainda há uma dúzia de jogadores viciados em ser fiéis no nosso plantel, apenas os quatro veteranos, Bett, Vilela, China e Palhota, podiam afirmar já ter vencido contra a Nova. Para pôr em perspetiva, da última vez que o Técnico tinha vencido a Nova, o chefe de estado de Inglaterra era a Queen Elizabeth, Cristiano Ronaldo aterrorizava a Serie A e Sócrates ainda estava à espera do início do julgamento. As possibilidades de vitória pareciam magras, mas se isso não impediu Luís Marques Mendes, também não nos impediria a nós.

Entrámos com tudo desde o primeiro minuto, com uma agressividade sufocante e que deixava a SBE sem resposta. Eles apresentaram-se com uma defesa bastante subida, o que causou que, por meio de recuperações no meio-campo e lançamentos rápidos na profundidade, o Técnico fosse colecionando as habituais oportunidades. Numa dessas investidas, o Instituto ganhou a ala esquerda, de onde saiu um cruzamento atrasado que encontrou os pés do nosso craque de Pombal e Tiago Costa finalmente inaugurou o marcador. O intervalo chegou logo a seguir, mas para a Nova significou pouco mais do que 15 minutos passados sem conceder oportunidades. O jogo manteve os contornos da primeira parte, e as poucas dúvidas que sobravam foram dissipadas. O nosso Ricky boy protagonizou uma bela condução até fixar o defesa, antes de tocar para o lado para Luís Viegas finalizar. A seguir, Tiago Costa, mais uma vez, leu na perfeição uma rotura de Amado que só teve de desviar do guarda-redes. 3-0 e os adeptos do Técnico estavam absolutamente perplexos. Não pelo resultado, que era mais que justificado, mas pelo facto de Viegas ter feito um golo. Depois de provavelmente a melhor exibição do Técnico das duas épocas a que já assisti, podemos orgulhosamente afirmar que, da última vez que o Técnico venceu a Nova, o chefe de estado de Inglaterra era o Prince Charles, o Cristiano Ronaldo já só aterrorizava os apoiantes da seleção e que Sócrates ainda estava à espera do início do julgamento.
Depois de uma vitória contra uma Nova que até então tinha 5 vitórias em 5 jogos, tínhamos pela frente a Faculdade de Medicina de Lisboa que se encontrava do outro lado da classificação. Se para nós, os três pontos eram imperativos para entrar na luta pelo primeiro lugar, a FML precisava de um ponto para sair dos últimos três. Quando Johan Cruyff disse que jogar futebol simples é o que há de mais difícil, claramente nunca tinha visto a FML jogar. Balão no ponta, segurar e bater nos extremos. Difícil só mesmo manterem-se em pé. Para uma equipa de médicos pareciam ter bastantes problemas de saúde, já que as cãibras começaram por volta dos 60 minutos. Numa segunda parte mais parecida com uma aula de stretching do que com um jogo de futebol, o resultado ficou preso em 0-0. As nossas aspirações ao primeiro lugar sofreram, mas não tanto como quem se deslocou ao Estádio de Honra para ver este clássico.
Felizmente, houve uma última partida este mês que compensou a falta de emoção: o tradicional jantar do amigo secreto! A equipa aninhou-se no Solar do Loreto, onde cada jogador recebeu aquilo que precisava mesmo sem saber. O desorientado Sousa finalmente obteve um mapa, o China um belo chapéu, o Neves recebeu de volta os croissants que deixou à porta do mister no Nacional e o mister Zé recebeu o fato macaco de que tanto fala. Só faltou recebermos todos um pouco de bacalhau no nosso “bacalhau com brás”, mas a fraca qualidade culinária só nos fez ter ainda mais saudades do Nacional e da comida da cantina.

O que é que a instalação da Vinted por Miguel Arruda e o pós de um jantar do Instituto têm em comum? Não há memória de nenhum dos acontecimentos e quaisquer alegações não passam de rumores. Uns dizem ter acabado sozinhos à chuva na Avenida da Liberdade, outros mal-acompanhados no Jamaica, mas a única coisa da qual temos a certeza é que no próximo treino apareceu tudo bem de saúde, se bem que com um ligeiro sabor a picante na boca.
Assim, termina um janeiro agridoce em que vamos ganhando balanço para os meses das decisões. Enquanto Trump fala em conquistar o Canadá, nós só falamos em reconquistar os Universitários de Lisboa. Em vez de pôr o nosso nome num Golfo, queremos pô-lo numa taça. E para quê eficiência governamental quando podemos ter eficiência à frente da baliza?
Como sempre, um abraço à família Les Blues,
Guilherme Jardim