Coimbra 2011 — 10 anos depois #1
No ano letivo de 2010/2011 eu entrava para o meu 3o ano no nosso grande Instituto e estava longe de saber a enorme influência que esse ano teria no resto da minha vida. Depois de passar a mocidade e adolescência sempre a jogar futebol, parei de jogar durante 2 anos, e voltava agora a jogar na equipa universitária.
Tenho de admitir que o comprometimento requerido pela equipa me deixou de pé atrás e algures em dezembro pensei seriamente em abandonar ao fim dessa primeira época. No entanto, houve uma semana que mudou tudo isso e o rumo da minha vida nos próximos 10 anos.
Após um honroso 4o lugar no campeonato regional tínhamo-nos qualificado para o campeonato nacional e eu tive a minha primeira oportunidade de viajar em equipa em alguns anos. Na minha etapa no Marítimo já tinha feito algumas viagens que guardava no coração, mas tenho de admitir que não estava minimamente preparado para o que vinha. As diferenças começavam por a equipa ser já de adultos e não de jovens que precisavam de autorização dos pais e arrastavam-se pela seriedade com que levávamos o torneio.
Tinha passado o ano todo a ouvir histórias de viagens passadas a campeonatos nacionais e a França e naquele sábado na Alameda tinha um certo frio na barriga por ser a minha vez de ser personagem em algumas páginas nas epopeias que seriam narradas em anos vindouros.
Na viagem na carrinha do capitão Maia não se repetiam álbuns, mas só me lembro de ouvir uma compilação do Rui Veloso ladeado pelo Cardoso que como lhe disse durante essa semana, sabia que ia ser companheiro de muitas batalhas, e que batalhas que vencemos, nesta semana e nos 10 anos que se seguiram, aquém e além-mar.
À chegada às margens do Mondego decidiu-se que partilharia quarto com o capitão Maia e com o meu “big-brother” Rino, era obviamente uma honra para um rookie ficar no quarto de dois pesos pesados do núcleo duro e ao mesmo tempo era uma responsabilidade já que sabia que haveria um certo passar de testemunho no 318 do Hotel D. Inês.
Volvidos 10 anos até é difícil pensar que toda aquela história podia ter acabado em 2 dias, mas na altura isto estava bem ciente. A bem da verdade nem nós tínhamos qualificado para o campeonato nacional, mas sim para o playoff de acesso ao mesmo, e tínhamos um grupo para passar antes até de jogarmos a fase grupos.
Talvez por isso quando ao fim do primeiro jantar fomos beber uma cerveja, e aqui saliento o uma, o líder da Comitiva, Comandante Villas, entrou em parafuso e ameaçou abandonar-nos e voltar para Lisboa. A reação motivou uma tourada das boas com chamadas ao Pirata, que tinha ficado em Lisboa por razões de trabalho, e com os habituais exageros nas reações que já me começava a habituar na equipa.
Mas na verdade e olhando agora do futuro, se não houvesse aquela reação nunca teria sido só uma cerveja, e não tínhamos criado procedimento de ir ao mesmo bar, sentado no mesmo sítio beber uma, e apenas uma cerveja que nos acompanhou durante o resto da semana.
Na manhã seguinte após o pequeno-almoço, houve palestra por Zoom before it was cool e ao som do exuberante Bill Conti embarquei a carrinha do capitão em direção ao Universitário de Coimbra onde nos bateríamos com a UBI.
O nosso talismã Carlinhos Estrela após o seu maço e meio de SG Ventil galgou pela esquerda como só ele sabe, cheio de beri-beri, para cruzar atrasado e escancarar as portas para o Paulinho abrir o marcador. Lembro-me de estar calor, muito calor e de sofrermos para manter o empate que tinha sido conseguido, mas a UBI era o favorito do grupo e o empate era um ótimo resultado que nos permitia apenas empatar no segundo jogo para passar de grupo.
Acabámos por passar esse playoff, e acabamos a jogar contra os nossos queridos advogados na fase seguinte o que me valeu o galardão de “Jogador Mais Execrável do Campeonato Universitário”, medalha que usei com orgulho até ao meu último dia no Instituto.
Passámos os grupos e sonhámos, vencemos a FADEUP nos penalties e acreditámos, e depois disso perdemos no campo, mas a semana nunca podia estar perdida, porque dali nasceu a geração que iria começar a dominar o futebol universitário em Lisboa, a minha geração, que ainda passou por muitas derrotas, mas que cresceu com elas, e que durante aquela semana bebeu da mística dos mais velhos e no fim da semana bebeu tudo o que havia para beber, exceto a bebida que o Estrela deitou ao chão.
Há momentos na vida que a transformam e as sensações de pertença, competência e sucesso que senti naquela semana foram o tônico que me fez levar esta equipa como um projeto pessoal, e tudo o que recebi e continuo a receber dela não é mensurável.
Texto de Jonas Pereira
11 titular: Tiago Marques, Pedro Maia, Carlos Esteves, Vasco Marques, Daniel dos Santos, Jonas Pereira, Bernardo Madeira, Paulo Costa, João Cardoso, Vasco Nascimento e Carlos Estrela.