[Por Jonas Pereira]
Na vida de um universitário o mês de Janeiro representa adversidade e sacrifício. É um mês em que não há aulas e em que por isso o carrossel gnosiológico e social que acompanha a esta fase da vida pára e dá lugar a uma clausura de pressão e falta de controlo nos resultados dos exames.
No contexto do futebol, o campeonato pára em Dezembro e volta apenas para a sua decisão em Março com o brotar da nova Primavera. Obviamente para se estar preparado para o final do campeonato é imperativo não parar de treinar e de evoluir numa fase em que as prioridades estão muito mais voltadas para a academia do que para o hobby.
A mitologia colectiva da equipa universitária do Técnico sempre deu um relevo central ao mês de Janeiro, de tal forma que a segunda estrofe do nosso hino lhe é dedicada da seguinte forma.
A correr no frio de Janeiro
Um dia vais perceber
Que o esforço de um ano inteiro
Alcança mais do que o vencer
Historicamente, as últimas jornadas da fase regular definem a qualificação para a fase final e, consequentemente, se a época acaba ou se continua para a sua fase mais excitante.
Naquele início de ano de 2014 já tínhamos a qualificação no bolso mas faltavam-nos 3 jogos onde tínhamos ao nosso alcance um resultado histórico a nível de pontos, golos marcados e classificação, era bem possível acabarmos a fase regular em primeiro lugar, o que na final-4 significava jogar com o teoricamente mais acessível quarto classificado da fase regular.
Numa cidade universitária desértica todos fizeram esforços tremendos para ter uma assiduidade que nos permitisse evoluir. Na minha posição de liderança o mínimo que podia fazer era dar aos meus meninos uma experiência futebolística compensatória numa fase de privação.
Era fundamental não esmorecermos a crença que nos tinha levado aos níveis de crescimento de Novembro e Dezembro era imperativo continuar a treinar três vezes por semana, mas numa fase tão complicada mentalmente era insensível negar a oportunidade de no fim de semana irem a casa sentir o calor e o carinho familiar.
Para além disto durante as fases finais que são jogadas a tarde, pessoalmente senti sempre um decréscimo significativo de performance, quer física quer de concentração pelo facto de não estar habituado a jogar nesse horário.
Não me lembro quem teve a ideia de mudar o treino de sexta-feira à noite para quinta-feira à tarde, mas lembro-me da sensação de Eureka quando a ideia surgiu. Desta feita matavam-se dois coelhos com uma cajadada, conseguia manter os três treinos por semana mesmo abrindo a liberdade de passarem o fim-de-semana com a família e conseguia atenuar a deficiência notada para a fase final.
Trabálhamos muito a técnica individual, cuidamos do corpo, e fizemos jogos lúdicos para abrir a mente e a compreensão colectiva do jogo.
E com o vagar do tempo chegaram os jogos que nos faltavam. Com preparações pensadas e com oportunidades para que todos pudessem estar ao melhor nível para a fase decisiva, conseguimos ganhá-los e garantir a melhor fase regional de sempre, vinte e sete pontos em onze jogos, com uma média de 3.18 golos marcados por jogo, numa equipa reconhecidamente retranqueira. Foi uma fase regular de sonho.
Quando recordo aqueles dias não consigo negligenciar o efeito que a crença geral de estarmos preparados para atingir o título teve na responsabilização individual dos jogadores e que simplificou o processo de sacrifício que era necessário. Nos meses anteriores o combustível que alimentou o nosso desenvolvimento foi a oportunidade de crescer e evoluir, nestes meses de sacrifício foi a crença que nos libertou a mente para continuar.