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A turma de 2014 — O sonho bate à porta

-????‍????A turma de 2014 ???? #5 — O sonho bate à porta

[Por Jonas Pereira]

Há uma certa névoa de lembranças e emoções em relação aquela semana de março. Tenho flashes nítidos da galgada do Cardoso pelo Estádio de Honra a baixo, do Anjo a saltar que nem um carneiro solto, do golo do Romão e de algumas partes da festa, mas no geral aquela semana na minha memória é um blur que passou tão rápido que na altura não consegui digerir tudo o que sentia.

Mas voltemos um pouco atrás. Esta semana que foi sem dúvida uma das mais marcantes dos meus 8 anos em Lisboa começa efetivamente na 5a feira anterior durante a manhã. Ao chegar ao laboratório onde estava a fazer a tese tinha uma quantidade enorme de mensagens de um dos meus meninos.

O treino de convocatória para a final 4 era nesse dia à tarde, e esse artista estava às 10 da manhã com uma pedalada de quem ainda tinha algo a oferecer à madrugada. Pedi-lhe que se deitasse e que não faltasse ao treino, não lhe correu bem.

Mas a verdade é que todos sabíamos que o que estávamos dispostos a fazer era maior do que qualquer um de nós, portanto quem não conseguiu manter o compromisso teve de ficar de fora e perder a meia-final.

Para perceber o meu estado anímico na 2a feira da meia final é obrigatório ter em conta que eu nos 3 anos anteriores tinha jogado e perdido 3 meias finais. Uma ganhámos no campo, mas perdemos na secretaria e nas outras duas perdemos sem espinhas, sendo que em todas elas houve um estado ataráxico que nos bloqueou totalmente a qualidade de jogo e até em alguns momentos a atitude para com o jogo.

Neste dia estávamos dispostos a fazer diferente, em consulta com o núcleo duro achou-se que este bloqueio dos 3 anos anteriores podia ser causado pela pressão de jogar um mata-mata, por estar tudo ali em jogo durante 90 minutos e que uma forma de combatermos essa ansiedade seria vivê-la todos juntos.

Juntámo-nos de manhã na cidade universitária e o nervosismo era notório, em mim, e em todos os presentes, mas juntos rimo-nos, lembrámo-nos do que tínhamos passado para ali chegar e de dias como aquele que tinham acabado em insucesso e aos poucos a pressão foi se desvanecendo.

Quando parámos para almoçar na nossa familiar D. Fátima já éramos o grupo que num dia normal seríamos, em festa com alegria e muita amizade, o nervoso estava esquecido.

No final desse dia, lembro uma das maiores sensações de alívio, afinal era possível passar as meias finais. A alegria e o peso que me saiu de cima foi enorme. Em todo o plantel só o Capitão tinha jogado uma final, e muitos de nós tínhamos perdido aquelas 3.

No treino de descompressão no dia seguinte tomei uma decisão que ainda hoje não sei se foi a certa. O artista da farra do treino de convocatória tinha-se desculpado, e a verdade é que ele nos dava soluções que mais ninguém nos podia dar. Deixar alguém de fora da convocatória para uma final perdoando um ato irresponsável foi algo que pelo menos para mim justifiquei com a minha obrigação de tomar as medidas que nos deixassem mais perto da vitória.

Na 5a feira finalmente o dia da final, seguimos a mesma rotina da 2a, o nervosismo estava lá, obviamente presente, mas era um nervosismo diferente, era uma ansiedade de podermos ganhar o campeonato, nunca um nervosismo de o podermos perder, porque depois de tudo o que já tínhamos crescido naqueles meses juntos perder o campeonato já não era possível.

O jogo era contra a pentacampeã FMH, sendo que nós éramos a 6a equipa diferente que eles defrontavam em 6 anos tendo vencido com algum conforto a maior parte das outras 5. O estádio de honra estava bem composto como não me recordo de ter visto noutra altura, ultras do Técnico com a cabeça alimentada pelos palotes de vinho e pelos melhores aditivos naturais que se podiam encontrar em Lisboa, as namoradas, os colegas de Faculdade e sobretudo as velhas glórias que não viam o Técnico numa final de futebol de 11 desde 2008.

Pouco se podia pedir mais de uma final do que 0–0 ao intervalo, não fomos superiores, mas em certos momentos percebia-se que a toda poderosa FMH podia já ter passado o pico da sua força e que erámos capazes de marcar, sentindo-nos confortáveis que a nossa defesa de betão não passava grandes dificuldades.

Até que num canto em que defendíamos o Cardoso sai na sua galgada maluca e consegue desviar para o capitão Marinho, o único que tinha jogado a última final, finalizar.

Os últimos 15 minutos não me lembro, como disse, há alguns flashes, recordo-me de com o coração a 1000 batimentos por segundo pedir a quem me acompanhava no banco para acalmar a festa que ainda não tinha acabado. Não sei se sofremos muito para aguentar o resultado ou se estivemos tranquilos e confortáveis, sei que batemos muitas bolas o mais longe possível na pista de atletismo do Estádio Honra.

Até que o apito soou, ao fim de tantos anos continuo sem conseguir racionalizar as emoções, o flashback de 4 anos de esforço, de crescimento e o olhar de quem era quando entrei para aquele grupo e quem era naquele momento, aos 24 anos, pronto a atacar a minha vida adulta e a suceder.

O resto do dia e da noite são histórias que quem lá esteve pode contar melhor do que eu certamente. Ainda não sei como é que o Marinho se safou de não ter o cabelo rapado, eu não me safei, mas a verdade é que conseguiu, e ainda bem ou teria de ir levantar o prémio de Atleta do Ano da ADESL na Gala de Entrega de prémios com a cabeça rapada.

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