noticias_bg

Arquivo

Coimbra 2011–10 anos depois #6

Coimbra 2011–10 anos depois #6

Numa época em que tudo nos aconteceu, desde jogos interrompidos, a outros decididos na secretaria, e uma série de incidências que contadas davam um livro, parecia que estávamos a ter o nosso prémio na sua reta final.

Em Coimbra, no primeiro Campeonato Nacional Universitário de grande parte da equipa (apenas eu, Maia, Vasco Marques, Vasco Nascimento, Rino, Mário Dias e Frederico Galão sabíamos o que era a experiência dum Nacional, além do comandante Villas, enquanto os restantes 13 dos 20 atletas eram estreantes) e debaixo de um calor abrasador que me fez dispensar a long sleeve logo após a primeira jornada do playoff, começámos a sentir algo especial.

Após superar o playoff, tendo vencido o grupo como vencemos, cheguei a ouvir o Brás dizer: “querem ver que ainda vai cair para nós?”. Os laços entre todos iam-se fortalecendo, a inevitável imperial (fino para alguns…) na Praça da Républica, o passeio no parque antes do almoço de quarta-feira e a forma como conseguimos superar a FADEUP nos quartos de final fizeram aumentar o otimismo. E na quinta-feira à noite vejo um email do Frad a mobilizar quem estava em Lisboa: “Vocês estão a ver bem o que está a acontecer? Bora para Coimbra”. 
 As palavras poderão não ter sido estas, exatamente, mas o espírito foi. E na sexta de manhã, quando nos dirigimos para o Estádio Universitário de Coimbra, onde defrontaríamos a equipa da casa, lá estavam o Frad, o Pirata, o Torres e o Esgalhado, vindos de Lisboa para entrarmos todos juntos em campo e continuar na luta pelo nosso sonho, juntamente com o Xô Rui que nos acompanhou toda a semana mesmo não indo jogar, o Gilberto que lesionado ficou impedido de jogar um CNU mas não deixou de marcar presença com o seu e nosso grupo, e até o Zé Bruno que também por lá apareceu e até ganhou umas botas no último dia.

À saída do hotel Dona Inês onde tínhamos estado instalados, não pude deixar de observar que a piscina que estava em manutenção em todo esse período, tinha passado a estar funcional e pronta para receber um cocktail, logo no dia do nosso check-out. Coincidências…

Nervoso miudinho antes de começar o jogo, mas nada demais. Tudo iria correr bem, estávamos preparados e confiantes. E o jogo mostrou que podíamos estar confiantes. Uma equipa que era orgulhosamente nojenta e cínica a jogar, estava a jogar o seu melhor futebol da semana. A primeira parte acabou por ser mais fechada e com poucas oportunidades até que veio o intervalo. Com um jogo pouco depois das 10 da manhã, podem imaginar o calor que se fazia sentir. Por isso o intervalo foi muito bem-vindo.

Já mais frescos, pensava eu, após o intervalo, eis que tudo ruiu. Uma bola em profundidade, a fugir ali para nossa lateral direita, o avançado ganha à frente e à minha saída da baliza acaba por picar a bola. Não muito, bola defensável, mas é factual, mal consegui tirar os pés do chão. A equipa não se deixou abater e apertou forte. Do nada, o Brás saca uma fabulosa bicicleta, quiçá inspirado no pontapé moinho do Luisão em Eindhoven que tínhamos visto na véspera na pizzaria junto à cantina, mas com ainda mais qualidade. A bola saiu a um palmo da baliza.

Não esmorecemos: pouco depois era o Paulinho a sacar mais uma das suas da cartola. Remate ao ângulo! Demasiado ao ângulo, e acertou no barrote com o guarda-redes a desviar com os olhos. E pouco tempo depois, o apito final e o sonho a ruir. Afinal não tinha caído para nós, e eu pensava: mas porque é que não consegui saltar. Ainda hoje é o que penso quando me recordo desse dia.

Cabisbaixos fomos almoçar na zona do estádio pois o jogo seguinte era às 14 e não havia possibilidade de ir à cantina, após o jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares, a semana terminava para alguns que regressariam a Lisboa. A maioria acabou por decidir ficar por Coimbra, onde pernoitaríamos na minha casa do Concelho de Penacova. Lá arrancámos para ir deixar as coisas dando uma volta maior que sabe lá deus, a ponto do Pit dizer que a casa ficava onde o burro perdeu as botas. Instalados, regressámos a Coimbra para uma noite inesquecível de grandes conversas e vivências com passagens pelo bar da AAC e pelo NB Club para uns quantos. Eu, estoirado dos 7 jogos em 5 dias, não passei pelo NB Club e fui direto do bar da AAC para casa. Acordei de manhã com sensacionais imagens de malta deitada em todo o lado, e o dia só acabou no rio Mondego, antes do regresso a Lisboa. Com um escaldão do tamanho do mundo na cara, mas sobretudo com uma certeza: tínhamos conseguido construir um legado e os frutos do mesmo viriam a revelar-se acima do tudo o que alguma vez esperámos. E isso valeu mais do que um título nacional ou europeu. Isso foi tudo.

Texto por Tiago Marques

11 titular: Tiago Marques, Pedro Maia, João Festas, Vasco Marques, Daniel dos Santos, Jonas Pereira, Bernardo Madeira, Paulo Costa, Vasco Nascimento, André Quaresma, Mário Dias.