????“Contos do Salvado”???? #9
“Gritos de comando”
No futebol do nosso tempo gritava-se. Gritava-se a sério.
Treinadores com jogadores, jogadores com jogadores (adversários e colegas), todos com os árbitros… havia um nível médio sonoro bem mais alto do que hoje. E, acho eu, o mesmo se passava para o nível de vernáculo e calão.
Cá fora, também gritávamos, mas era uns pelos outros, com tudo o que tínhamos para apoiar quem estava lá dentro… e se fosse para “gritar contra” os adversários, ninguém se acanhava, valia (quase) tudo.
O treinador não falava com jeitinhos e carinhos, arranjava uma alcunha (pessoal ou colectiva) e, como dizem os brasileiros, xingava o jogador até que a vergonha o fizesse cumprir o que era pedido, aliás, exigido.
Os capitães, cada um ao seu estilo, captavam a atenção do resto da equipa, mas nunca era com “falinhas mansas”, era sempre “curto e grosso”.
Os guarda-redes dariam certamente excelentes cantores de ópera ou do fado de Coimbra (daqueles que se cantam sem microfone), pois ouvíamo-los até na área adversária. E, para não haver desatenções, as frases acabavam sempre em “car…”, isso, aquela parte do navio que servia de posto de vigia e também de castigo.
Dos nossos “gritadores” de serviço, há três destaques:
1) o Zé Amorim, para além de respirar em modo “cavalo de corrida” quando sprintava, mudava de voz para um ‘falsetto’ de taberna quando se enfurecia com o pessoal, principalmente em jogadas de perigo adverário, em que ele queria sempre que metêssemos a bola “na casa do car…” (nunca ouvi mais ninguém com essa expressão), mas acabava sempre a rir, rematando com um “olha-me só aquela p…”, apontando para o exemplo em campo de como não se jogar futebol;
2) o Luciano Gomes sempre foi o soprano da equipa, com um registo agudo e muito agudo que “furava” a gritaria geral dos tenores, barítonos e baixos que populavam o campo; e olhem que embora fosse franzino e jogasse mais na ala ou a ponta-de-lança, ele era dos que tinha melhor cultura táctica e das vezes que treinei com ele a central/líbero, nunca fizemos figura triste, porque ele sabia organizar e posicionar uma defesa inteira;
3) o Luís Alves (“Choné” para os amigos) desceu de trinco para central com a entrada do Amorim para treinador e o especial da voz dele nem era em campo, mas sim no social… estava sempre pronto para cantar as músicas todas em volume máximo até ficar afónico (e ficava mesmo) onde quer que a equipa fosse, até chegarmos às “Dunas” ou ao “F-r-a… frá!”, não havia quem o batesse!
Agora, mais do que isto, só quando todos juntos entoávamos em uníssono a Marselhesa no Mercuriales: “Conheci uma francesa…”
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